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sábado, 5 de maio de 2012

PMA capacita profissionais para humanizar assistência aos usuários em crise
clique para ampliarCerca de 200 profissionais da Rede de Urgência e Emergência da Prefeitura de Aracaju participaram do I Seminário Municipal de Atendimento Multiprofissional em Urgência Psiquiátrica (Fotos: Ascom/SMS)
clique para ampliarO seminário começou no dia 3 e terminou no sábado, no Ceps
clique para ampliarConferencista da abertura do seminário, médico e professor Antônio Lima
clique para ampliarCoordenadora e técnica do Núcleo de Educação Permanente em Saúde da PMA
Cerca de 200 profissionais da Rede de Urgência e Emergência (Reue) da Prefeitura de Aracaju participaram do I Seminário Municipal de Atendimento Multiprofissional em Urgência Psiquiátrica. O seminário foi aberto oficialmente pela Secretária Municipal de Saúde, Stella Maris Moreira no auditório da Universidade Tiradentes e encerrou no último sábado, dia 5. Na mesa de abertura estavam ainda a coordenadora da saúde Mental do Estado de Sergipe, Sony Petrus; a coordenadora da Reue, Maria Cecília Mendonça e a coordenadora do Núcleo de Educação Permanente em Saúde (Neps/SMS), Ângela Leite.
Segundo Stella Maris, o seminário surgiu da necessidade dos próprios trabalhadores da Reue e da Prefeitura de Aracaju em ampliar o cuidado à assistência às pessoas com transtornos mentais e em crise psiquiátrica, uma demanda cada vez mais crescente em Aracaju, no país e no mundo.
"É elevado o número de pessoas com transtornos mentais que chegam aos serviços de pronto atendimento nas unidades Nestor Piva, da Zona Norte e Fernando Franco da Zona Sul. Com o seminário, estamos dando passos mais largos para qualificar e atualizar as equipes de saúde para fazer frente aos desafios encontrados na prática cotidiana dos nossos serviços", afirma.
A coordenadora da Reue, Maria Cecília Mendonça diz que a expectativa da Prefeitura de Aracaju é a de sensibilizar os profissionais no atendimento mais humanizado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela explica que as vagas para o seminário também foram distribuídas entre profissionais da Rede de Atenção Psicossocial e representantes de conselhos de classe de Medicina, Psicologia, Enfermagem, Serviço Social, técnico de nível médio, técnicos e auxiliares de enfermagem. O seminário foi idealizado pela parceria dos técnicos da Reue e Neps, no Centro de Educação Permanente em Saúde (Ceps/Aracaju).
O número de inscritos ao evento e apoio da secretária de Saúde foi ressaltado por Maria Cecília. "Estamos extremamente emocionados com a qualidade na participação desse seminário. Ele foi idealizado desde o ano passado e não foi algo fácil esse percurso. Temos de agradecer a secretária Stella Maris por apoiar e participar do evento. Também é importante reconhecermos e agradecermos os profissionais do Nestor Piva, do Fernando Franco, da Urgência Mental e dos técnicos do Núcleo de Educação Permanente em Saúde (Neps da SMS). Esse seminário surgiu do esforço conjunto desses trabalhadores", destacou Maria Cecília.
Crises psiquiátricas
Um dos palestrantes do seminário foi o médico, professor e emergencista da Urgência Psiquiátrica da Prefeitura de Aracaju, localizada no Hospital São José, Antônio Souza Lima. Ele abordou os conceitos, mitos e falou da fragilidade dos cidadãos comuns e dos profissionais de saúde em lidar com pacientes com transtorno mental.
Os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a doença mental cresce e não apenas em países com muita pobreza. "Cresce o número de transtornos mentais em sociedades bem construídas e bem arquitetadas: a angústia do ser humano é universal. Saber sofrer será o diferencial e os profissionais e serviços de Saúde devem estar preparados para lidar com esse fenômeno", divulgou. 
Para ele, a rede de saúde pública precisa estar preparada para atender esses pacientes. Quanto aos profissionais, esses precisam quebrar paradigmas sobre essa assistência.
O médico chamou à atenção para o fato de não ser mais possível a recusa nos serviços não especializados ao atendimento a uma pessoa em crise e/ou que sofra de transtorno mental. "Independente do campo de ação dos profissionais se clínico e ou se psiquiátrico, o papel da assistência em saúde é atuar com as demandas às pessoas com sofrimento psíquico. Elas existem e são crescentes. Não temos como nos esquivar, fugir dessa nossa tarefa", afirma.
Crise é uma passagem
Um dos paradigmas abordados com ênfase pelo palestrante se relacionava aos conceitos e mitos às crises psiquiátricas. "A crise em saúde mental é uma passagem, é um capítulo na história de vida do indivíduo. Não devemos identificar essas pessoas como doentes, mas em situação de crise. Temos de desmitificar essa ideia: uma vez doente sempre doente. Os profissionais devem estar aptos para cumprir o papel da reabilitação dessas pessoas", defendeu.
Espera-se das equipes que trabalham com sofrimento psíquico na crise um acolhimento adequado. Esse acolhimento é fundamental para que as pessoas e crise sejam bem vidas: casas de muro alto não apenas espantam ladrões, mas também amigos e visitas.
"Muitas vezes, por exemplo, os clínico-gerais das urgências nos enviam pacientes descompensados por uso de drogas. Clinicamente, os profissionais devem primeiro estabilizar esse paciente. Todos profissionais de saúde devem aprender a abordar um usuário de drogas, estabilizá-lo e só depois encaminhá-lo para a psiquiatria. Deve-se primeiro observar o perigo da morte", afirma Antônio Lima. 
Antônio Lima ensina que, no momento da intervenção não basta saber se um paciente é bipolar e ou esquizofrênico. "No momento da crise é preciso estabilizar o quadro e fazer o encaminhamento adequado. E esse cuidado não acaba na estabilização. É responsabilidade da equipe fazer com que o paciente chegue bem em casa ou onde quer que seja. É o que chamamos de cuidado continuado, até que ele chegue em lugar seguro. A equipe deve estar treinada para isso, deve ser garantindo remédio, a contenção e diagnóstico de boa qualidade".
Linguagem comum e perfil profissional
O médico defende a necessidade dos profissionais de Saúde se familiarizar à linguagem comum da Classificação Internacional de Doença (CID). A CID classifica em códigos doenças como a compulsão por internet, psicoses, transtorno afetivo, transtorno de personalidade, retardo mental, dentre outros. "Apesar dos conceitos sobre doença mental estarem sendo reavaliados, os códigos da CID oferece parâmetros e hipóteses para diagnóstico dos pacientes. A linguagem única facilita a comunicação entre as equipes de Saúde", aposta.
Quanto ao perfil dos profissionais que atuam na intervenção da crise mental, Antônio Lima destaca qualidades que vão desde preparo técnico e físico aos aspectos ético e humano. Mas sobretudo, segundo o médico, nenhum profissional sozinho vai atingir as esferas da crise do paciente. "É pré-requisito dessa assistência o trabalho em equipe. Além disso, esses profissionais devem primeiro estar disposto para essa atividade, ter equilíbrio e controle emocional, ter capacidade física, ter iniciativa de comunicação e ter destreza natural", enumera.
Descriminação, manicômios e patologias
Apesar dos dados internacionais e universais, o tema transtorno mental ainda é um tabu e as pessoas acometidas por essas crises enfrentam discriminação. Para o médico, esse fenômeno ocorre por desconhecimento das pessoas ao tema.
Segundo Antônio lima, a discriminação aos transtornos mentais é resquício de um dos principais legados dos manicômios. "Não apenas os doentes foram discriminados, mas todo mundo que vivia naquela situação conflitante foi discriminado médicos, enfermeiros e técnicos e familiares dos pacientes".
Ele atestou que os profissionais alvos desse preconceito também adoeceram com o seu objeto de trabalho, com as doenças ocupacionais. "Assim como os mineiros que adoecem com a fuligem, um psicólogo adoece com a exposição frequente ao transtorno mental. Por isso precisa aprender a lidar com o seu trabalho, para não adoecer", disse.
Finalmente, o médico diz que tem boas expectativas na qualificação dessa assistência nas urgências da Prefeitura de Aracaju. Ele acredita que o seminário e a educação em Saúde continuada trarão a integração das equipes das urgências com a clínica psiquiátrica para assegurar uma assistência adequada aos usuários do Sistema Único da Saúde.

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